Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Perdoar não é tão simples como dizem

Publicado originalmente em 10/jan/2011

Continuação de Perdão e confiança

Tem P.S. no final.

Perdoar é muito mais complexo do que a sociedade e a religião ensinam, principalmente porque não entendem a diferença entre perdoar e confiar ou restaurar a comunhão. São coisas diferentes.

Todos nós conhecemos pessoas que foram traídas e não querem comunhão com o traidor que não pediu perdão. Mas as pessoas em volta ficam repetindo para quem foi traído que deve perdoar, que deve esquecer, “Ah, já passou tanto tempo e você ainda pensa nisso?”. Diz o ditado que quem bate esquece, quem apanha, não. Triste é que não vejo as pessoas pressionando o traidor para pedir perdão ou se arrepender. Normalmente querem que a pessoa traída perdoe sem que o traidor peça perdão.

P.S.: A mensagem principal da Bíblia é "arrependa-se", e não "perdoe". Mas a moda agora é pedir que as pessoas perdoem tudo. Quando é que vão começar a pregar arrependimento? Nem o Eterno perdoa a quem não pede perdão.

Não consigo fazer essa leitura nas palavras do Eterno, que eles usam para convencer quem foi traído liberar perdão. Não consigo imaginar o Eterno dizendo que deveríamos ser bobos e fingir que não estamos vendo as mentiras e armações das pessoas e deixar que elas nos enganem, que nos explorem, que se aproveitem da nossa boa vontade, e no final nos apunhale pelas costas, e que depois deveríamos perdoar, esquecer, sem que a pessoa peça perdão. Não entendo mesmo isso.

O que vejo em toda a Bíblia é a mensagem de arrependimento. É só pesquisar quantas vezes aparece a ordem “arrependam-se” na Bíblia. Eu já pesquisei, é muita coisa. E não vejo o Eterno perdoando ninguém sem que a pessoa tenha se arrependido e pedido perdão. Esse é o padrão dele e de sua Palavra, arrependam-se.

Por exemplo, como se perdoa uma pessoa que para prejudicar um adulto chega ao limite da crueldade contra uma criança? O alvo da vingança é o adulto, mas quem é maltratado é um inocente, indefeso, incapaz como diz a Justiça. Como se perdoa isso, principalmente se o agressor não pediu perdão?

Como pode alguém maltratar, deixar passar fome e roubar o futuro de uma criança, quase bebê, para se vingar de um adulto? Isso é um nível muito grande de crueldade e maldade.

Será que a pessoa e os seus apoiadores não perceberam que o adulto não foi o prejudicado nessa história? Ninguém vê que a verdadeira vítima é a criança, incapaz de se defender? Quem vai ficar com uma ferida na alma, o adulto que tem entendimento, ou a criança que não pode ainda tomar decisões e nem sabe que está sendo usada para o mal? Quem vai sofrer mais?

Alguns anos depois, ainda que essa pessoa se arrependa, ainda que peça perdão ao adulto, suposto alvo da vingança, ainda que isso aconteça, será que esse perdão vai consertar alguma coisa? Porque o traidor deveria pedir perdão para a criança, a verdadeira vítima da traição. Mas ainda que peça perdão para a criança, essa pessoa vai conseguir reparar o erro que cometeu, vai conseguir devolver o que roubou do inocente? A resposta é NUNCA MAIS. Nunca mais alguém vai conseguir restituir o que foi tirado de uma criança desse jeito. Os anos já se passaram, não tem como voltar atrás.

E engana-se quem pensa que pode maltratar e ser cruel com um dos pequeninos do Eterno e não sofrer castigo. Não podemos zombar do Eterno e a vingança pertence a ele. Ele é justo e com certeza está olhando pelas crianças. E ai daqueles que fizerem sofrer um incapaz. Eu não queria estar na pele deles quando o Eterno começar a pesar a mão sobre eles.

Pensando nesse exemplo consigo entender porque o Eterno, apesar de ter perdoado Davi, não curou o filho, fruto do adultério, e o bebê morreu. Agora faz sentido porque o Eterno não retira a consequência de alguns pecados. Davi – e as outras pessoas na mesma situação –, não podia reparar o mal que havia feito. Urias já estava morto e ele não podia trazê-lo de volta e restaurar o casamento dele com Bate-Seba. Nem com todo arrependimento e choro do mundo Davi poderia fazer isso. Impossível. Por isso o Eterno não atendeu a oração de Davi curando o filho de Bate-Seba.

Agora entendo porque há pecados que são perdoados e as consequências retiradas, mas há pecados em que isso não é possível, porque não há como reparar o erro cometido, não há como consertar, restituir, voltar o tempo.

P.S.1: E mais triste ainda é quando a pessoa está sofrendo um castigo tão óbvio, que só não vê quem não quer, porque a pessoa está sofrendo exatamente pelo que fez outra pessoa sofrer, ou ela vive a mesma situação de alguém que foi vítima de uma mentira que ela falou, prova do próprio veneno, ou o castigo é tão "olho por olho" e a pessoa não percebe, não reconhece seu pecado, não conserta o que fez de errado, ou não restitui o que roubou da outra. E a pessoa passa por um castigo às vezes bem difícil e tanto sofrimento que poderia ter sido evitado com um simples pedido de perdão.

E chame como quiser: prêmio e castigo, carma, lei do retorno, consequências, justiça divina, recompensa... Tanto faz, o resultado é o mesmo: colhemos o que plantamos. E "quem semeia vento colhe tempestade".

P.S.2: Quando falo sobre não perdoar quem não pede perdão, muita gente me olha com cara de espanto e outras até discordam e tentam "pregar" para mim, principalmente citando textos contrários à Torah. Até entendo que aprenderam errado sobre o conceito de perdão e ficam repetindo o que seus líderes falam na lavagem cerebral dominical. Mas não perdoar, ou não querer assunto, ou não querer comunhão, ou não querer conviver com a pessoa que foi cruel, feriu, agrediu, e NÃO se arrependeu, NÃO reconheceu o erro e NÃO pediu perdão, NÃO significa guardar mágoa, rancor, amargura no coração. Não mesmo. Posso perfeitamente não querer assunto com quem me feriu e ainda assim não ter ódio nem mágoa nem amargura, e tenho o direito de não querer conviver para não me violentar e para não dar chance de ser ferida de novo. Não sinto mágoa, amargura etc, o que sinto é decepção, é impotência diante da injustiça, é tristeza pela pessoa não se arrepender, por ver tanta dureza de coração, apesar de tantas vezes ter sido confrontada. E todos os sentimentos eu coloco diante do Eterno em oração, limpo meu coração diante dele, confesso todo desejo de justiça com as próprias mãos, confesso todo desejo mau do meu coração, confesso todo pensamento de violência, peço perdão pelas palavras de maldição que eu possa ter dito na hora do sangue quente, libero perdão para a pessoa em oração e peço que o Eterno perdoe a pessoa. E não oro pedindo justiça, oro pedindo arrependimento para a pessoa que me feriu, e pedindo misericórdia para mim. Não fico alimentando mágoa, mas também não vou fingir que nada aconteceu e "esquecer" o que a pessoa fez e restaurar comunhão com quem não pede perdão. Enfim, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E repito, se nem o Eterno perdoa quem não se arrependeu e não pediu perdão, por que eu haveria de perdoar? Resumindo: não sou obrigada a conviver com pessoas que contribuíram para uma criança passar fome e não reconhecem que erraram, não pedem perdão e nem corrigem o erro. Mas posso e vou continuar dizendo que estão errados, vou continuar confrontando a maldade que fizeram, e isso não significa que estou com mágoa nem amargura, só significa que não vou me calar diante de uma injustiça e uma crueldade tão grandes.
P.S.3: E indignação não é amargura. "Indignação: sentimento de cólera ou de desprezo experimentado diante de indignidade, injustiça, afronta" (Houaiss). Que eu não perca a capacidade de indignar-me. "Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto" (Augusto Branco).

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