Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

quarta-feira, 30 de março de 2016

E aí, tudo bem? Sem drama, por favor.

Publicado originalmente em 10fev2011.

O filme Um sonho de liberdade conta a história de um homem que foi condenado injustamente. Quando chegou ao presídio e disse para os outros condenados que ele era inocente, os outros presos riram muito dele e disseram para ele que todos ali eram "inocentes".

Isso me faz lembrar do conselho que ouvimos em vários filmes e novelas, quando alguém é pego em delito, normalmente adultério, um amigo aconselha: "Negue tudo". E isso é confirmado quando ouvimos notícias sobre a prisão de alguém e a reportagem sempre diz que o acusado negou as acusações. Ninguém nunca fez nada.

Enfim, vivemos a era da negação, a maldição do “tudo bem”. As pessoas vivem em um mundo de fantasia, negam que têm problemas, negam que fizeram algo errado, negam tudo. E aí, quando encontramos um conhecido e perguntamos “Tudo bem?”, a resposta tradicional é “Tudo bem, obrigado”, mesmo que não esteja nada bem, mesmo que o mundo esteja desabando sobre a cabeça da pessoa, ela responde “tudo bem”.

Mas se não está tudo bem, se a pessoa está cheia de problemas e ela responde “tudo bem”, isso não seria uma mentira?

Fico pensando nisso toda vez que alguém me faz essa pergunta. Será que devo responder “tudo bem”, ainda que não esteja tudo bem, ou devo falar sinceramente que não está tudo bem? Se eu falar que o mundo está desabando sobre a minha cabeça, a pessoa pode pensar que sou negativa ou pessimista ou só sei reclamar? Mas a pessoa perguntou e não posso mentir. Que dilema!

Sim, isso é bem complexo, mas ando preocupada com as pessoas que negam tudo, vivem em um mundo de ilusão, criam uma realidade que não existe, vivem uma mentira. Não assumem seus erros, não assumem suas escolhas, vivem de aparências, muita hipocrisia. Ah, como o ser humano complica a vida.

Isso é tão grave que a criança já aprende desde pequena a mentir. A mãe vê um objeto quebrado, briga com a criança e a reação dela é mentir, dizer que não foi ela, mesmo que só as duas estejam em casa e não há mais ninguém em quem pôr a culpa.

Reconhecer que tem problema é o primeiro e grande passo para a cura ou solução. Se a pessoa não reconhece que precisa de ajuda, que precisa de tratamento, como vai resolver o problema? Porque se não admite que tem um problema, fica difícil resolver.

Precisamos ser mais práticos e realistas e reconhecer nossos problemas e doenças. Ficou doente? Ore e descubra a causa e trate a enfermidade. Morreu? Enterra (P.S.: Chore, coloque luto, viva o luto, depois TIRE o luto e prossiga com a vida). Caiu? Passa Gelol. Está com dor de cabeça? Toma Melhoral. Quebrou? Joga fora. Errou? Reconheça e peça perdão. Está com problemas? Não esconda, peça ajuda, fale sobre isso. Pecou? Confessa. Alguém puxou sua orelha? Seja humilde, reconheça o erro e peça perdão (ah, mas não, é tanta gente sensível, cheia de não-me-toque, parecendo ouriço, ninguém pode falar nada que os espinhos aparecem). Sujou? Limpa. Não tem pão? Come biscoito. Simples assim, sem drama. Mas as pessoas complicam demais.

Para mim isso é culpa das novelas e filmes (sim, eu assisto, mas com o piloto automático desligado), as pessoas vivem como se representassem um papel e são dramáticas demais.

Isso me faz lembra a história que gosto de contar, de um programa de TV que assisti quando era criança. A história era sobre um casal que assistia a novelas e outro que não assistia. A cena é a mesma para os dois casais, o marido entra na cozinha e a esposa está preparando o café da manhã e ela precisa informar ao marido que o pão acabou e vão comer biscoitos.

O casal que não assistia a novelas reage bem à situação, o diálogo era mais ou menos assim:

— Bom dia, querida.
— Bom dia, querido. O café está pronto, mas o pão acabou, vamos comer biscoitos, tudo bem?
— Ah, não tem problema.
E eles se sentam para tomar o café e continuam conversando normalmente.

Já o casal que assistia a novelas:
— Bom dia, querida.
— Bom dia, querido – começando a choramingar – tenho uma notícia não muito boa para você.
— Que houve, querida – entrando em desespero – fale logo.
— Não sei como te contar, é uma coisa muito triste – diz a esposa aos prantos.
— Conta logo, você está me deixando preocupado.
— Tá bom, eu conto, mas fique calmo: é que o pão acabou – e chora compulsivamente.
— Ah, não, que tragédia – diz o marido e cai em prantos também.
A cena termina com ambos abraçados, chorando como se alguém tivesse morrido.

(Meu sobrinho ria muito quando eu contava essa história e imitava o segundo casal).

É uma boa ilustração de como as pessoas andam dramáticas hoje em dia. Fazem tempestade em copo d’água e tudo vira um dramalhão. E acabam negando a realidade e não conseguem resolver seus problemas.

Precisamos de um choque de realidade, já. E precisamos reconhecer nossos erros e problemas, urgente. Sem drama, por favor.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Feliz(?) Dia Internacional da Mulher

Minhas postagens de ontem no Facebook:

Não, não é um post em causa própria. Sou respeitada como mulher dentro do meu mundinho, na minha casa. E do sistema religioso opressor e machista já me livrei faz tempo.
Sim, é um post de empatia às mulheres que são agredidas o ano todo e no dia de hoje a sociedade tem a petulância de oferecer flores e desejar feliz dia.
Mas não, eu não tenho o que comemorar porque vejo os números, leio as notícias, acompanho a dura realidade dessa sociedade injusta e hipócrita.
Violência doméstica, violência no parto, salários menores, crimes passionais, assédios e abusos desde a infância, misoginia, torturas psicológicas etc etc etc.
Quem sabe talvez um dia tenhamos um feliz ‪#‎DiaInternacionaldaMulher‬, mas por enquanto não é feliz. Quase século 22 e ainda é muito triste, é lamentável, é vergonhoso, ainda não temos o respeito resgatado. Quero acreditar que não foi sempre assim, que alguma coisa se estragou no meio do caminho, mas não tenho mais esperança na humanidade para reverter a atual situação decadente.
Então, ‪#‎Nãoqueroflores‬, não é um feliz dia, não há o que celebrar.
‪#‎RipHumanidade‬

"Na escola em que você foi ensinada
Jamais tirei um 10
Sou forte, mas não chego aos seus pés."
‪#‎Nãoqueroflores‬

Mais de cem mulheres morreram para você ganhar flores, presentes ou jóias hoje. Nunca foi por flores ou presentes. Sempre foi por reflexão e luta. Nunca foi para dizer "feliz dia", nunca foi para festejar. ‪#‎Nãoqueroflores‬

"A cada 7 minutos, uma denúncia de violência contra mulher é registrada no Brasil: neste 8 de Março, o ‪#‎Estadao‬ abre seu perfil no Twitter para publicar relatos reais, exatamente como eles ocorrem; veja alguns."


E esta foi a de hoje:

Parabéns pelo seu dia ontem, você, mulher sortuda, que, por exemplo, não teve ‪#‎primeiroassédio‬ aos seis anos, nunca sofreu abuso ou estupro quando criança e nenhuma menina da sua família engravidou aos 11, 12, 13 anos, você que nunca apanhou do pai, do irmão, do namorado, do marido, não se casou com um ‪#‎misógino‬, nunca correu de tarado na rua, ganha o mesmo salário dos seus colegas machos na mesma função. Mulher de sorte, não precisa mesmo fingir que sente a dor das outras azaradas. Afinal, ‪#‎empatia‬ pra quê? Então comemore mesmo, poste fotos dos seus presentes e flores de ontem, não se importe com a origem da data de ontem que ‪#‎nuncafoiporflores‬.
‪#‎Ironia‬ no máximo. Sendo irônica para não falar palavrão.(Ontem não queria flores de nenhum jeito, e nos outros dias do ano‪#‎nãoqueroflores‬ se forem flores cortadas. Aceito em outro dia qualquer se estiverem plantadas e se forem mudas de plantas comestíveis melhor ainda, aceito e agradeço.)

terça-feira, 8 de março de 2016

Ao homem que queria mudar o mundo

Publicado originalmente em 8mar2014.

O reformador do mundo
Monteiro Lobato

"Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de pôr defeito em todas as coisas. O mundo para ele estaria errado e a natureza só fazia asneira.
- Asneira , Américo?
- Pois então?... Aqui mesmo, neste pomar, você tem a prova disso. Ali está uma jabuticabeira enorme sustentando frutas pequeninas, e lá adiante vejo uma colossal abóbora, presa ao caule de uma planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário? Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria as bolas, passando as jabuticabeiras para a aboboreira e as abóboras para a jabuticabeira. Não tenho razão?
Assim discorrendo, Américo provou que tudo estava errado e só ele era capaz de dispor com inteligência o mundo.
Mas o melhor, concluiu, é não pensar nisto e tirar uma soneca à sombra destas árvores, não acha?
E Pisca-Pisca, piscando que não acabava mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. Sonhou com um mundo novo, reformado inteirinho pelas suas mãos. Uma beleza!
De repente, no melhor da festa, plaft! Uma jabuticaba cai do galho e lhe acerta em cheio o nariz.
Américo desperta de um pulo. Pisca-Pisca medita sobre o caso e reconhece, afinal, que o mundo não era tão mal feito assim. E segue para a casa refletindo:
- Que coisa!... Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim, a primeira vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta no lugar da jabuticaba? Hum! Deixemo - nos de reformas. Fique tudo como está que está tudo muito bem.
E Pisca-Pisca continuou a piscar pela vida à fora mas já sem a cisma de corrigir a natureza."

Américo Pisca-Pisca poderia se chamar Joaquim Vitório, que onde chegava queria mudar tudo, "aquela parede está em lugar errado", ele dizia, rsrsrs. Pior é perceber que sou um pouco como ele, kkkkkk. Hoje ele faria 89 91 anos.

Apenas a morte faz parte da vida

Publicado originalmente em 19nov2013.

"_ Oi, Forrest.
_ O que aconteceu, mãe?
_ Estou morrendo, Forrest. Venha cá, sente-se aqui.
_ Por que está morrendo, mãe?
_ É minha hora, é minha hora. Ora, vamos, não tenha medo, querido. Apenas a morte faz parte da vida. É algo a que todos estamos destinados. Eu não sabia, mas estava destinada a ser sua mãe. Fiz o melhor que pude.
_ E se saiu bem, mãe.
_ Bom, eu acredito que fazemos o nosso destino. Tem que fazer o melhor com o que Deus lhe deu.
_ Qual o meu destino, mãe?
_ Você vai ter que descobrir isso sozinho. A vida é como uma caixa de bombons, Forrest. Você nunca sabe o que vai encontrar. (Minha mãe sempre me explicava as coisas de um jeito que eu entendia.)
_ Vou sentir saudades, Forrest.
Ela tinha câncer e morreu na terça-feira. Eu comprei um chapéu para ela, chapéu com flores. E não quero dizer mais nada sobre isso."