Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

domingo, 25 de outubro de 2015

Falta empatia ou a dificuldade em se colocar no lugar do outro, os sortudos e os azarados

Publicado originalmente em 15jan2014.

P.S.: "Empatia  
3. capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende etc.
3.1. Rubrica: psicologia.
processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro
3.2. Rubrica: sociologia.
forma de cognição do eu social mediante três aptidões: para se ver do ponto de vista de outrem, para ver os outros do ponto de vista de outrem ou para ver os outros do ponto de vista deles mesmos." (Houaiss)

As leituras sobre misoginia, pedofilia, violência na saúdeviolência obstétrica e outras causas humanitárias me fizeram abrir os olhos para uma outra triste realidade nossa. Às vezes leio um texto de alguma história de violência, e quando vejo os comentários dos outros leitores, dá vontade de chorar mais ainda. E até já ouvi coisas parecidas de pessoas que conheceram a história que vivi recentemente com meu pai no hospital.

E os comentários são mais ou menos assim:
"Ainda bem que meu(s) parto(s) foi(ram) maravilhoso(s), deu tudo certo, fui muito bem atendida, não tenho do que reclamar."
"Ah, comigo não foi assim, ainda bem, meu parto foi tranquilo."
"Ah, eu tive sorte, não passei por isso."
E muitas vezes essas mulheres que fazem comentários assim passaram por violência obstétrica e nem sabem, porque não leram nada sobre o assunto.

E outros comentários parecidos:
"Ah, ele não tinha plano de saúde? O meu tinha, e foi muito bem atendido."
"Ainda bem que tive mais sorte, fomos muito bem atendidos no hospital."
E essas pessoas também não sabem o que significa violência na saúde, e também não ouviram tantas histórias tristes sobre hospitais particulares como ouvi, significando que não é por ser particular ou público que vai garantir um atendimento humanizado.

E quando leio comentários desse tipo fico me perguntado: Então nós que sofremos a violência somos os "azarados"? É isso que estão querendo dizer?

E a minha conclusão é que, sim, alguns tiveram mais "sorte", mas muitos são "azarados", e não sei o critério para o "sorteio", mas percebo que as pessoas têm uma enorme dificuldade em se colocar no lugar do outro, em sentir a dor outro. Não foi com elas, então os "azarados" que se lasquem, elas não se importam com isso. Até o dia em que derem o "azar" de encontrar um médico não humanizado, aí vão entender, porque infelizmente as pessoas só entendem o outro quando passam pela mesma dor.

Não preciso ser mãe, como não sou, para entender e sentir a dor das mulheres que todos os dias têm o seu parto roubado em hospitais públicos e particulares neste país. Não preciso ter passado pelo que elas passaram para sofrer junto com elas e tentar divulgar, alertar, compartilhar, para que outras mulheres não passem por isso.

Não preciso ter um marido misógino, como não tenho, para entender e sentir a dor das mulheres que sofrem caladas esse pesadelo em todas as classes sociais, em todos os grupos. Posso perfeitamente entender e sofrer com elas, e por isso faço minha parte, divulgando e alertando. O maior elogio que recebi do meu marido foi ele dizer que sou engajada.

P.S.: E você não precisa ter sido molestado quando criança, não precisa ter sido vítima de pedofilia, como eu fui, com primeiro assédio aos seis anos, e como trocentas crianças foram e são vítimas o tempo todo neste país campeão em pedofilia, e não precisa ter filhos ou sobrinhos vítimas de pedófilos para se colocar no lugar de quem foi. Você pode tentar imaginar e tentar sentir a dor de cada uma dessas crianças e tentar ter um pouco de empatia.

Enquanto isso os "sortudos" não estão nem aí para nada disso, não curtem uma postagem no Facebook, não compartilham, não ajudam a divulgar. Enquanto isso muitos religiosos "sortudos" que não estão nem aí para causas humanitárias, só divulgam seus congressos, festinhas, postam piadinhas etc (quase nunca vejo um religioso envolvido em causas humanitárias, o máximo que fazem é divulgar correntes de oração que eu considero inúteis).

Enfim, mesmo não precisando ser "azarada" em todas as situações, e sendo "azarada" em outras, prefiro continuar alertando, falando, falando, falando, um dia alguém vai ouvir e vou salvar mais um de ser um "azarado" neste país de egoístas.

E cuidado, o "sortudo" de hoje pode ser o "azarado" de amanhã.

Um comentário:

Day Storm disse...

Shalom Débora,
Eu sei bem o que você está falando. Faço minhas as suas palavras.
Tive uma fase muito difícil, na qual para minha surpresa as pessoas que eu achava que me entenderiam comportaram-se desse modo que vc descreveu. Eu não preciso passar pelo o que o meu próximo passa para compreende-lo basta existir interesse em compreender, empatia e melhor ainda amor ao próximo. Vivemos em tempos difíceis, o amor esfriou, há muito individualismo e competição. Abraços