Publicação fixa: Argumentos lógicos X tratados teológicos

Meus textos questionando o sistema religioso e as mentiras do cristianismo são sempre com argumentos de raciocínio lógico, porque para mim vale o que está escrito sem interpretações humanas, sem oráculos para traduzir o texto... Continue lendo.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Lei Menino Bernardo: chega de violência! Ou a ignorância dos religiosos

P.S.: Lei Menino Bernardo sancionada dia 27 de junho de 2014!

Publicado originalmente em 13/jun/2014

Repetindo o que disse em outra postagem:
"E para completar minha indignação, está circulando nas redes sociais um quadrinho com a frase: 'Mãe que leva o filho à igreja não busca na cadeia'.
Infelizmente essa não é uma verdade, quem inventou essa frase desconhece completamente as estatísticas que dizem que bem mais que a maioria dos presidiários é composta de filhos de religiosos, e isso é triste, muito triste.
A frase deveria ser: 'Mãe que ensina, educa, disciplina, ora, obedece ao Eterno, essa sim, tem menos chance de buscar o filho na cadeia'.
Para quem quiser saber mais sobre o assunto, leia esta reportagem (o link não funciona mais). Destaquei um trecho e colei aqui: 'Porém, o que chama a atenção é o fato de cerca de 80% dos presos entrevistados serem desviados de igrejas, filhos de pastor ou terem alguma pessoa na família que é evangélica. Poucos deles nunca haviam ouvido falar de Deus através de um parente. Impressionada com a estatística, a repórter conversou com alguns agentes religiosos e descobriu que sua breve percepção é algo concreto: a maioria de presos no sistema penitenciário realmente é formada por parentes de evangélicos .' "

E agora está circulando outra frase absurda compartilhada por religiosos: "Lei da palmada foi aprovada. Agora os pais que derem umas palmadinhas nos filhos serão tão criminosos quanto um pedófilo, assassino ou estuprador".

Frase completamente mentirosa, digna de quem não leu um texto sequer sobre o assunto, nem leu a redação do projeto de lei. Então vou colar aqui alguns trechos de textos da internet para que você não saia por aí pagando mico e compartilhando mentiras.

"A Lei Menino Bernardo é o nome adotado pelos deputados para projeto de lei 7672/2010, da Presidência da República brasileira, proposto ao Congresso Nacional Brasileiro que visa proibir o uso de castigos físicos ou tratamentos cruéis ou degradantes na educação de crianças e adolescentes. A imprensa brasileira apelidou a lei de Lei da Palmada.
O projeto prevê que pais que maltratarem os filhos sejam encaminhados a programa oficial de proteção à família e a cursos de orientação, tratamento psicológico ou psiquiátrico, além de receberem advertência. A criança que sofrer a agressão, por sua vez, deverá ser encaminhada a tratamento especializado. A proposta prevê ainda multa de três a 20 salários mínimos para médicos, professores e agentes públicos que tiverem conhecimento de agressões a crianças e adolescentes e não denunciarem às autoridades." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_Menino_Bernardo) [grifo meu].

"— É uma lei muito mais simbólica. Não traz nenhuma alteração significativa naquilo que o estatuto já previa. O que há é uma tentativa de instalar uma cultura nova no Brasil, onde também se perceba, assim como em outros países do mundo, que a violência física não é construtiva na educação — aponta a magistrada." (http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/06/o-que-diz-a-lei-bernardo-que-proibe-a-palmada-como-punicao-4519103.html)

Se preferir, alguém até desenhou:




Então você pode perceber que em nenhum lugar há equiparação com crimes hediondos como diz o meme nas redes sociais, em nenhum lugar se fala em prender pais ou responsáveis agressores. É uma lei para reflexão sobre a violência contra incapazes e não para condenação.

Mas os religiosos estão por aí se posicionando contra a lei e postando argumentos fajutos e absurdos e postando mentiras como a que citei acima. Absurdos como "eu apanhei e não morri", ou "a polícia bate mais forte", ou "pata de galinha não mata pintinho" (hã, como assim, não veem as notícias de mortes por espancamento???) e outras pérolas de apologia à violência. Não param para refletir, não leem os argumentos sérios sobre o assunto, ignoram as estatísticas sobre violência e morte de crianças. Não param nem para olhar para o lado, bem perto de cada um de nós, e não veem quantos apanharam muito na infância e não se tornaram boas pessoas. Não prestam atenção nas notícias diárias sobre crianças mortas por espancamento, e sobre violência praticada pelos pais.

E essa ideia ridícula, com o mesmo raciocínio da primeira frase que citei sobre buscar filho na cadeia, de que quem apanha vira adulto honesto e feliz, não passa no crivo da simples observação da sociedade em volta, nem precisava de estatísticas.

Eu poderia contar um sem número de histórias que conheço de pessoas que apanharam muito na infância e hoje não se tornaram adultos saudáveis. Como disse em outra postagem, conheço duas pessoas que apanharam muito na infância e não prestam de carteirinha... Uma é mentirosa compulsiva, apesar de ter apanhado muito por causa das mentiras que falava, e outra, além de vários desvios de caráter, virou espancadora de crianças. E todos nós conhecemos tantos outros adultos que se tornaram pessoas do bem e não apanharam quando crianças. E isso prova que o argumento a favor da violência é completamente infundado.

Não, violência não educa, violência não ensina. Violência causa traumas, ódio, feridas na alma, medo, insegurança. É como diz a autora do texto que postei outro dia: "Por isso os argumentos falhos, de gente ferida, de gente que pensa que se tornou uma boa pessoa PORQUE apanhou, quando na verdade se tornou uma boa pessoa APESAR de ter apanhado".

E como disse um outro autor no Facebook: "Mas tem criança que só aprende apanhando'. Não, o que você quer dizer é que 'tem adulto que só ensina batendo".

E estamos falando de crianças, pequenas, indefesas. Covardia! Por que não batem em alguém do tamanho deles?

E isso me dá uma vergonha alheia tão grande dos religiosos, que pregam amor, amor, amor, e fazem apologia à violência contra crianças pequenas. E tenho muita vergonha do meu passado no sistema, muita vergonha de ter feito parte disso. Antigamente eu achava estranho e até quase me ofendia quando ouvia alguém falando que os religiosos são ignorantes e chatos, mas hoje tenho que concordar: ô, povo ignorante e chato.

Como já disse antes, eu penso que a lei é redundante, porque já existem leis sobre lesão corporal, maus-tratos e assassinato, e nem acredito mais em leis no país da impunidade, na "terra de Marlboro", mas vale para conscientização. Chega de violência!

E o pior de todos os argumentos fajutos é usarem um texto de Provérbios para justificar a violência. Nem quando era do sistema eu não aceitava bem esse texto como permissão para violência contra crianças (e nem hoje consideraria, ainda que a tradução fosse mesmo vara de espancar, porque não está na Torah, então para mim não tem peso de lei, é só um conselho). E certa vez ouvi uma advogada explicando que vara significa disciplina, e não literalmente um porrete para bater, tipo Vara de Família dos fóruns, e passei a falar isso para quem defendia a violência. Mas agora percebi que nem isso é correto, porque o texto foi totalmente traduzido errado, como você pode ver neste trecho:

" 'Então tomou Jacó varas verdes de álamo e de aveleira e de castanheiro, e descascou nelas riscas brancas, descobrindo a brancura que nas varas havia.' Gn30.37
Aqui, 'maqqel' foi traduzido por 'vara', e parece ser a vara/ramo/galho que é extraída das árvores, como se convencionalmente se aceita ser uma 'vara' no idioma português.
Esse tipo de 'vara' aparece 18 vezes em 16 versos diferentes no VT hebraico, e NENHUMA DELAS EM PROVÉRBIOS.
'O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga.' Pv13.24
Aqui, Shebet foi traduzido por 'vara'.
Shebet é simbolo de autoridade, cuja tradução correta para o português é 'cetro'.

(http://verdadesespeciais.blogspot.com.br/2012/06/vara-em-proverbios.html)

Até quando vão usar textos com erros de tradução, fora de contexto e selecionados como uns devem ser obedecidos, outros não, para justificarem suas doutrinas humanas? Até quando?

E até quando o povo vai se deixar manipular por líderes problemáticos e não vão fazer uma simples pesquisa básica antes de compartilhar absurdos? Até quando os religiosos vão ficar contra leis que protegem os inocentes? Até quando vão ficar de fora das causas humanitárias e ficarão no seu mundinho da campanha do quilo e distribuição de sopão para fingirem que fazem alguma coisa pelos pobres?

Como disse em outro texto: Enquanto isso muitos religiosos "sortudos" que não estão nem aí para causas humanitárias, só divulgam seus congressos, festinhas, postam piadinhas etc (quase nunca vejo um religioso envolvido em causas humanitárias, o máximo que fazem é divulgar correntes de oração que eu considero inúteis).

E para terminar, por favor, antes de compartilhar coisas na internet, pense, reflita, questione. E na dúvida, não compartilhe. Se não quer pagar mico, compartilhe apenas notícias de veículos de notícias, sempre com link do jornal ou revista e citando a fonte, aí você vai se resguardar e a responsabilidade é do veículo e não sua.

3 comentários:

Andressa Bragança disse...

ADOREI amiga. Ótimo.

Caixapostal disse...

Oi Débora, o link para a reportagem que vc recomenda está quebrado.

Débora De Bonis disse...

Pois é, infelizmente o link não funcionava mais, então deixei só a home da revista, mas o site está fora do ar também. E não consegui encontrar a íntegra da reportagem em outro lugar. Estou tentando resgatar, se conseguir posto a reportagem completa. Desculpe.